quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sob o foco do marketing, o que o cliente prefere: assistir a um jogo de futebol ao vivo ou ganhar uma casa de presente com toda a infraestrutura e metrô na porta?

Por José Estevão Cocco
Publicado no Portal Copa 2014.

Sob o ponto de vista do mercado, quando se fala em emprego de capital e investimento, o cliente ou o consumidor deve vir sempre em primeiro lugar. As seguintes perguntas do investidor devem ser respondidas. O que sua majestade, o consumidor, deseja? Como, quando e onde? Quais seus anseios e preferências? Quanto será investido, quantos bens serão produzidos, quantos consumidores serão conquistados e qual o grau de satisfação deles? Qual o retorno do capital investido? Qual o risco do investimento? Quando os investimentos, em uma determinada obra, não são proporcionais ao retorno, normalmente, o poder público investe e financia. Podemos citar como exemplos: usinas geradoras de energia, redes de tratamento de esgotos, transporte público, portos, aeroportos, estradas.

Nesses casos, o investimento público é direcionado para o desenvolvimento social, geração de empregos, sustentação das atividades industriais, comerciais e de serviços, e fomentar o desenvolvimento do esporte e lazer para a população, conforme a própria Constituição brasileira estabelece. São ginásios, quadras, pistas, estádios e tantas outras necessidades da população para um desenvolvimento sadio e com saúde. Quando se fala em estádios, deve-se entender locais multiuso para diversos esportes e atividades de lazer e entretenimento, de tamanho sensato, estrategicamente distribuídos por todo o território nacional.



O dinheiro público deve ser democraticamente aplicado, de forma a atender o maior número possível de cidadãos. Deve financiar a iniciativa privada em projetos que, além de atender a população, gerem empregos e promovam o desenvolvimento econômico. Com base nessas premissas, nota-se que aí não se pode incluir a construção de estádios de futebol de tamanho inadequado à região ou à cidade e nem em duplicidade. A menos que sejam projetos privados sustentados por planos profissionais e não políticos.

Com os valores orçados para a construção dos estádios da Copa 2014, conforme exigido pela FIFA, o investimento não encontra qualquer respaldo, quando comparado com as necessidades sociais atuais.

Cada estádio custa, em média, R$ 700 milhões. Considerando a amortização em 30 anos (caso do Palmeiras, por exemplo), esse valor vai para R$ 1,5 bilhão (com juros da Caixa Econômica Federal para casas populares, sem correção monetária de qualquer tipo). Com o valor médio das casas do Programa Minha Casa Minha Vida, poderiam ser construídas 60 mil casas. Como cada casa abriga 3,5 pessoas em média (IBGE), seriam atendidas 210 mil pessoas durante toda a vida.

Consideremos esses números multiplicados por 12 sedes. Seriam 720 mil casas, atendendo a mais de 2,5 milhões de pessoas. Praticamente o número de ingressos previstos para a Copa inteira. Isto é: para cada ingresso, uma casa! No valor do estádio não estão incluídas as despesas de infraestrutura urbana, acesso, metrô e outras necessidades. Assim sendo, adicionando-se mais esse valor, as casas construídas também seriam entregues com todos esses melhoramentos.

Retorno do Investimento.

Quem recebe uma dessas casas, paga de volta por meio de financiamentos com os mesmos juros subsidiados aplicados nos financiamentos para a construção dos estádios. Logo, o capital investido na construção das casas, a médio prazo, já pode ser reinvestido em novas casas. E a geração de empregos é permanente, diferentemente do que ocorre na construção de estádios. Até a democratização da participação das empreiteiras. Centenas de construtoras de menor porte poderão participar dessa demanda.

Enquanto o investimento em casas populares retorna sem nenhuma outra necessidade de ativação do bem, um estádio mastodôntico, para ter o retorno do investimento, precisa de atividades esportivas ou de entretenimento com despesas constantes e com custo de realização maior do que o do próprio estádio. Em outras palavras, para o investimento num estádio desses retornar em 30 anos, é preciso investir mais cerca de R$ 1,5 milhão por mês na manutenção do estádio e na realização de espetáculos esportivos e de entretenimento. Dinheiro esse que daria para construir outras tantas casas populares.

Numa conta idiota, se dividirmos o investimento no estádio pelos 30 anos, mais o custo necessário para promover os espetáculos, seria preciso vender, todos os meses, cerca de 350 mil ingressos a preços populares. Isto é, realizar pelo menos seis super eventos por mês, com o “elefantão” lotado. Como a média de público nos estádios brasileiros não chega a 20 mil pessoas por jogo, seriam necessários 18 jogos ou espetáculos mensais nesse estádio, APENAS PARA COBRIR CUSTOS. Sem considerar os impostos, taxas e lucro sobre os espetáculos. Se o estádio for transferido para algum clube, de onde ele tiraria o dinheiro para sustentá-lo e, ainda, manter suas equipes com a alta performance exigida para atrair a torcida? Aí temos como grande exemplo o Engenhão e outras obras do Pan-americano do Rio de Janeiro.

CONCLUSÃO: não é um bom investimento. Por isso as empresas privadas não investem. Por isso, a FIFA faz tanta pressão para que o Governo coloque dinheiro a fundo perdido nos “elefantões”.

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