segunda-feira, 1 de março de 2010

Negócio da China ou da Europa?

Por Diandra Gomes Arbia

Um dos principais produtos de exportação da economia brasileira é o jogador de futebol. De acordo com a CBF, apenas em 2009, 1017 atletas brasileiros foram transferidos para outros países. Endividados como os clubes brasileiros são, muitas vezes a venda do jogador é vista como um colete salva-vidas em uma tempestade em alto-mar. Com cifras cada vez mais absurdas, a venda de um ídolo para o exterior muitas vezes é vista como a grande salvação financeira.

Muitos clubes brasileiros apenas conseguem obter lucro ao final de cada temporada, graças à venda de seus atletas. Já é de conhecimento geral que esta é uma das maiores fontes de renda de certos clubes. Entretanto, a coisa poderia ser diferente, com um tantinho mais de paciência.

Veja o lateral-direito do Barcelona - e reserva do Maicon na seleção brasileira -Daniel Alves. O jogador começou no futebol nas categorias de base do Juazeiro e se tornou profissional no Bahia, time que o revelou e onde foi eternizado como um dos grandes ídolos do clube. Daniel, porém, saiu do futebol baiano direto para o Sevilla, da Espanha, em 2002. Na Europa, o sucesso foi absoluto. O lateral-direito atuou no Sevilla até 2008, quando foi comprado pelo Barcelona por 35 milhões de euros, com um contrato até 2012.

O garoto, considerado uma estrela na Europa, era anônimo no resto do Brasil até 2003, quando foi convocado pela seleção brasileira sub-20, para a disputa do Mundial da categoria e terminou a competição como um grande destaque da seleção brasileira. No entanto, foram as convocações para a seleção principal que o tornaram realmente famoso em todo o território nacional.

E o Bahia, o que ganhou com isso? Dinheiro imediato para saldar dívidas do clube. Entretanto, se considerarmos que o atleta pertence ao clube, entendemos que o jogador é uma fonte de receita para a equipe. Daniel Alves era titular absoluto no Bahia e grande ídolo da torcida. Quantas ações não poderiam ter sido feitas com o rapaz - guardadas as devidas proporções - à exemplo do que é feito com Ronaldo Fenômeno, no Corinthians? Qual seria o potencial de um garoto prodígio como Daniel, quando pensamos no marketing, no aumento da exposição que ele poderia trazer aos patrocinadores do time e nos benefícios a longo prazo que ele poderia trazer ao clube?

Além disso, é preciso considerar o impacto que um grande ídolo tem no desempenho do clube e na torcida, despertando paixões, aumentando a confiança e dando um gás na disputa por títulos.

Entretanto, por mais maravilhoso que tudo isso pareça, é difícil segurar um atleta em um clube quando o mundo mágico da Europa bate à porta e os clubes do velho continente seduzem os jogadores em euro. Da mesma forma que o retorno financeiro destas novas experiências internacionais seduzem os atletas, também seduzem os clubes. Entretanto, se fosse possível segurar os jogadores por mais tempo, um leque de possibilidades se abririam. Muitas vezes, ações de marketing bem desenvolvidas podem gerar uma receita considerável para ambas as partes e às vezes até mesmo maiores do que o valor obtido com a venda desses ídolos.

No caso de Daniel Alves, por exemplo, também seria bastante interessante para o clube, e para o próprio jogador, que ele permanecesse mais tempo defendendo a camisa da equipe. Quanto mais desenvolvido e quanto melhor o desempenho exibido por aqui, melhor é a venda do jogador. Uma venda precipitada acarreta uma perda de dinheiro impressionante.

Da forma como são feitas, as lucrativas negociações de jovens jogadores brasileiros para times da Europa, podem ser ilusórias, se pensarmos a longo prazo. Na verdade, os maiores favorecidos nessas transações, são os clubes Europeus, que – além de desfrutar de todo o talento de nossos atletas, vão reaver o dinheiro investido com lucro no momento de uma futura venda destes jogadores, sem falar na quantia obtida com o marketing, que é muito bem explorado pelos times europeus.
Após um tremendo sucesso no Sevilla e - mais recentemente - no Barcelona, o tablóide “Daily Star” noticiou que o Chelsea pretende pagar até 35 milhões para tirar o jogador do Barcelona. Com certeza, é um valor muito superior ao obtido pelo Bahia na negociação com o Sevilla.



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