quarta-feira, 24 de março de 2010

O FUTEBOL E OS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO - Quem é o verdadeiro dono?

Por José Estevão Cocco

Com certeza o futebol é a maior indústria do Brasil. Em tamanho, importância econômica e social, conteúdo para milhares de veículos de comunicação, colunas, blogs, televisão, jornais, revistas, rádios, cinema. Colunistas, narradores, locutores, repórteres, comentaristas, mesa-redondistas e muitos, muitos outros. O espaço ocupado pelo futebol só na televisão está avaliado em cerca 18 bilhões de reais anualmente.

A relação futebol e imprensa (todos os segmentos) é muito complicada, emotiva, com interesses comerciais e pessoais em jogo.

Recentemente organizamos um “Fórum de Debates Noticiário Esportivo - Harmonizando o meio-de-campo entre imprensa, esporte e patrocínio”, numa realização conjunta com a ABI-Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro, com patrocínio da Petrobrás.

O fórum se propôs e discutiu as relações que envolvem o noticiário esportivo, debatendo questões sobre o relacionamento ético e comercial entre os jornalistas, os departamentos comerciais dos veículos de comunicação, o segmento esportivo e os patrocinadores e profissionais do marketing esportivo.

Os assuntos tratados foram os seguintes:

  • Qual o retorno que a prática esportiva pode proporcionar aos segmentos envolvidos: Comunidade, Governo, Mídia e Patrocinadores;
  • Quais os limites dos interesses editoriais, jornalísticos e comerciais; 
  • A Indústria do Esporte é solução para a criação de riqueza, emprego e noticiário?;
  • Esporte de base: como viabilizar o desenvolvimento da base e criar novos ídolos através do financiamento público, privado e da mídia;
  •  Continuidade e Planejamento no Patrocínio Esportivo;
  • Eventos internacionais. A geração de negócios para Governo, Comunidade, Empresas e Jornalismo.
Como era de se esperar os debates foram acalorados e até exacerbados. Jornalistas, dirigentes esportivos, patrocinadores, atletas, diretores comerciais de veículos defenderam à exaustão suas posições e pontos de vista.

Desde as colocações de jornalistas de que o profissional de jornalismo não deveria fazer merchandisings nem estrelar campanhas publicitárias, às de atletas e dirigentes de clubes que defendem a obrigatoriedade dos veículos de comunicação darem visibilidade aos seus patrocinadores, até os patrocinadores que entendem que sua missão termina com o patrocínio e apoio aos atletas e ou clubes, devendo a visibilidade ser gratuita.

Realmente o assunto é polêmico e vence - como sempre - quem tem o time mais preparado e mais cacife para negociar.

Um conceito não é polêmico: o futebol necessita de visibilidade para o seu contínuo crescimento, sobrevivência e desenvolvimento da qualidade do espetáculo muito além da performance dos times. Em contrapartida os veículos de comunicação também necessitam do futebol para manter suas empresas, receitas e lucros.

Dessa forma é que enxergamos a indústria do futebol: os times fazem o espetáculo e os veículos de comunicação levam esse espetáculo às massas. Como qualquer atividade para ser competitiva, lucrativa e perene precisa de receita.

Os veículos de comunicação buscam suas receitas financeiras através de patrocinadores e anunciantes em suas programações esportivas. Centenas de veículos de comunicação têm praticamente 100% da grade de programação baseada no futebol. Transmissões ao vivo, mesas-redondas, noticiário, cobertura dos clubes e uma infinidade de outras maneiras de aproveitamento do conteúdo futebol.

Os times buscam receita de diversas formas e fontes que incluem bilheteria, patrocínios diversos, licenciamento e, principalmente, direitos de arena.

No mundo inteiro é assim. Os valores são proporcionais ao tamanho do mercado. Em alguns locais, os valores pagos em direitos de arena são várias vezes superiores aos praticados no Brasil.

Quanto vale realmente os direitos de arena? Logicamente existem várias formas de mensuração. A quantidade e qualidade mercadológica dos consumidores dos times, a qualidade do espetáculo proporcionado para alavancar audiências entre outros.

Chega-se a um ponto crucial: para ter um time que proporcione bons espetáculos é preciso ter atletas de primeira grandeza. É preciso ter craques e profissionais dirigentes administrativos e de marketing que realmente dêem conta da jogada. Como financiar isso?

Do outro lado, para que tenham audiência, tiragens e leitores que justifiquem colocar o futebol preferencialmente às novelas, noticiários e outras matérias que não futebol, os veículos de comunicação precisam de um futebol forte, vibrante e espetaculoso.

Se os veículos de comunicação, para ter um futebol digno de grande audiência, precisassem arcar com todos os custos de organização das equipes e times, contratação dos craques, administração dos jogos, com certeza não compensaria financeira e economicamente.

Quanto custa e quanto vale o GRP (ponto de audiência) das emissoras de rádio e televisão? E os espaços de jornais e revistas? As receitas obtidas seriam suficientes para cobrir as despesas e manter o necessário lucro?

A conclusão é límpida, cristalina e única: é preciso haver uma parceria, clubes e veículos de comunicação aliados em realizar bons espetáculos e boas transmissões, noticiários e reportagens.

Praticamente tudo que se coloca no rádio, na televisão, jornal e revista é passível de direitos de arena, autorais e outros. Se não pagar o ECAD não tem espetáculo.

No futebol, não. Salvo raras exceções - Copas do Mundo FIFA, por exemplo, onde todos são obrigados a adquirir direitos de transmissão - só quem paga é a televisão. Se paga muito ou pouco é discutível, mas é o único veículo de comunicação que pode exigir contrapartidas pelo investimento feito.

Todos os outros veículos vivem do futebol e não para o futebol. As empresas, seus funcionários, seus jornalistas. Vendem patrocínios e anúncios em cima de uma propriedade alheia. E, invariavelmente, só criticam e destroem o conteúdo de que sobrevivem. Mantendo os clubes sob seus domínios graças aos interesses escusos de dirigentes e atletas que se submetem em troca da visibilidade, entendida como gratuita. Mesmo sendo sempre execrados moral e profissionalmente.

Por interesse próprio, a televisão praticamente não critica o espetáculo. Até pelo contrário, procura pelos bons ângulos favoráveis.

Se não ficar entendido que o futebol profissional não é um bem sem dono, de domínio público, manifestação popular e outras alegações, que qualquer um pode se apropriar, logo, logo ele desaparecerá. Ou se tornará uma NFL, NBA, EUROCOPA... Será sonho?

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