segunda-feira, 19 de abril de 2010

O outro lado do Projeto de Lei que limita os horários dos jogos de futebol

O vereador Antônio Goulart (PMDB), ao lado do vereador Agnaldo Timóteo, é o autor do Projeto de Lei 564/06, que limitar o horário dos jogos de futebol às 23h15. O Projeto, que no momento está nas mãos da Comissão de Justiça, suscitou controvérsias e discussão.

Goulart divulgou um artigo, indicando as razões pelas quais acredita que o Projeto de Lei seja benéfico para a população. Respeitando a posição do vereador, gostaria de colocar alguns aspectos e pontos de vista sobre o artigo escrito pelo mesmo.         
Antes de tudo, é preciso quantificar o que é chamado de população. Os frequentadores dos jogos às quartas-feiras à noite somam em média 20 mil pessoas neste Campeonato Paulista. Sendo assim estamos falando em 0,19% da população da cidade de São Paulo. Isso significa que não se pode falar, a não ser demagogicamente, em nome da POPULAÇÂO.

Depois, o vereador afirma que “o assunto já levantou muita discussão, uma vez que grandes veículos da imprensa e órgãos que regulamentam o esporte, como a Federação Paulista de Futebol (FPF) sentiram-se, de certo modo, prejudicados com essa idéia". Gostaria de esclarecer que as entidades citadas como regulamentadoras do esporte, apenas e tão somente administram dentro da legislação existente.

A primeira das razões apontadas pelo vereador no artigo divulgado argumenta que “os torcedores que frequentam os estádios sabem que é difícil conseguir transportes coletivos após a meia noite, fato que faz com que os espectadores perambulem pelos arredores dos estádios à espera de um meio para voltar para casa”. E ele completa “O que não se comenta é que o problema não é somente o modo de voltar para casa, a grande maioria que frequenta é trabalhadora, e levanta muitas vezes ainda de madrugada para chegar ao trabalho, ou seja, quanto antes chegam em casa mais tempo de descanso podem ter”.

Se existe ou não transporte público não é a questão fundamental. O transporte público é precário na maioria dos horários. Principalmente para o trabalhador que precisa manter o emprego e OBRIGATORIAMENTE precisa ir ao local de trabalho. O oposto dos 0,19% da população que não tem qualquer OBRIGATORIEDADE de assistir a uma partida de futebol às quartas-feiras à noite. Essas pessoas têm diversas alternativas de dias, horários e locais em outros dias da semana, domingos, segundas, terças, quintas, sextas e sábados para assistirem partidas de futebol nos estádios.

O que o vereador considera como "maioria trabalhadora" que se "sacrifica" para assistir um jogo de futebol à noite porque no dia seguinte "precisa acordar de madrugada" para trabalhar? Das 20.000 mil pessoas a maioria pode ser, digamos, 15.000? E que vão ao estádio por livre e espontânea vontade? Nessa grande maioria estão incluídas as torcidas uniformizadas, que vivem do futebol!

Em seguida, Goulart argumenta à favor do seu projeto, utilizando a “Lei do Silêncio”: “Se um pequeno bar quando ultrapassa um certo limite de decibéis em barulho é multado pela Lei do Psiu, porque um estádio seria diferente? Muitos moradores que vivem na região dos estádios têm que conviver com muito barulho até as 3 da madrugada, sendo que do mesmo modo que os torcedores, a grande maioria acorda cedo no dia seguinte”, escreveu o vereador.

Apelar para a Lei do Silêncio é não ter argumentos menos demagógicos.

E ele continua: “Essa Lei é benéfica até mesmo para as emissoras de TV. Ao começar próximo das 22h, o público que acaba acompanhando os jogos são os apaixonados por esporte. Crianças e pessoas que trabalham cedo no dia seguinte acabam deixando de ver os espetáculos. Ao limitar o horário dos jogos, esses telespectadores passarão a fazer parte da audiência do futebol e assim atrair mais investimentos em publicidade e patrocinadores para as redes de televisão”.

Convenhamos, querer ensinar grade de programação para os veículos brasileiros é atentar contra a capacidade intelectual das pessoas e dos profissionais de marketing. Os programas são colocados em horários diretamente relacionados com sua audiência e o valor dos patrocínios. Se uma emissora resolve colocar Fórmula 1 de madrugada em função do fuso horário não pode ser acusada de atentar contra a necessidade de sono da população. Se outra emissora resolve colocar os maravilhosos Jogos Olímpicos de Inverno altas horas da noite também não. Assiste quem quer e quem pode!

Além disso, é ingênua a colocação de que colocando a transmissão de futebol mais cedo a "emissora conquista mais audiência e mais anunciantes". Se fosse assim as emissoras seriam burras em não aproveitar as oportunidades!

Uma questão que vale a reflexão é: por quê limitar horário apenas para o futebol? Quais os interesses embutidos? Por que não limitar os cinemas, teatros, casas de show, shows em estádios entre outras atividades de lazer e entretenimento?

É importante lembrar que a cota de televisão é que sustenta e mantém os clubes brasileiros hoje. Se a televisão não puder veicular nos horários compatíveis com custo, audiência e patrocínios, quem vai manter os clubes que, mesmo com o excelente valor recebido da televisão vivem numa extrema penúria? Toda e qualquer limitação impacta no valor de qualquer produto.

Finalizando, devemos atentar que dificilmente essa legislação será a nível estadual ou federal. Se essa afirmação for verdadeira, apenas a cidade de São Paulo será prejudicada com a responsabilidade total da Câmara de Vereadores, uma vez que a Prefeitura teve melhor senso ao vetar a lei aprovada. Mesmo que outras cidades ou estados ou o Brasil venham a ter legislação igual, demandará tempo suficiente para São Paulo ficar sozinha na proibição, levando os jogos, nacionais e internacionais, para outras cidades. Existem centenas de cidades ávidas em poderem promover os espetáculos em qualquer dia e em qualquer horário.

AbraEsporte - Academia Brasileira de Marketing Esportivo
José Estevão Cocco
Presidente

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Um comentário:

Mario Marcos Girello (Maraco) disse...

A televisão indiscutivelmente é o suporte financeiro de muitos esportes, senão pelos valores pagos mas pela divulgação/exposição dos eventos.
Sendo assim, porque contestar sua grade de programação neste caso ¨prejudicial ¨ uma vez por semana.
Participei da cobertura da Copa do Mundo de Futebol que se realizou nos Estados Unidos, os jogos chegaram a ser realizados as 12h00 local debaixo de um insuportavel calor, sómente para atender as grades das emissoras espalhadas pelo mundo, principalmente as européias.E porque neste mesmo país temos as tranmissões especiais chamadas de friday night ou sunday night ou monday night....será que quem paga não tem este direito???.
Vejam os jogos do Campeonato Italiano, temos partidas em todos os horários aos finais de semana para poder atender as necessidades das TVS a nível mundial.E assim vai.....
Será que todos estão ¨incorrendo neste mesmo e absurdo erro ¨????
Ainda bem que estamos tentando ser diferentes de todos os ¨incompetentes programadores de televisões a nível mundial ¨
e salve a demagogia.........

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