sexta-feira, 18 de junho de 2010

Construir novos estádios de luxo é entregar circos de luxo para uma população carente de educação, transporte e outros luxos.

Por José Estevão Cocco
Texto publicado no Portal 2014, em 17 de junho de 2010.

Como o próprio presidente da CBF e do COL diz, a Copa do Mundo FIFA não pode ficar sem São Paulo.
Portanto, de alguma forma ou de outras, São Paulo não ficará fora da Copa do Mundo de 2014.
A importância econômica da cidade lhe dá o cacife de poder negociar com a FIFA assim como fazem as cidades e países importantes e sérios.
São Paulo pode tranquilamente ficar sem a Copa. Não vai perder nada com isso. Não precisa fazer investimentos temerários e seguramente sem retorno. Os turistas chegarão em São Paulo de qualquer forma, vindos diretos do exterior ou de outras sedes da Copa no Brasil.
Ao contrário, a FIFA precisa dar aos seus decantados sócios e patrocinadores explicações de ficar fora de São Paulo por problemas políticos. O mercado paulista é tão importante para os patrocinadores e investidores que a própria Rede Globo não transmite finais da Libertadores sem times paulistas.
A FIFA e o COL têm tanta consciência disso que afirmam publicamente que a Copa não pode ficar sem São Paulo.

A FIFA tem um produto invejável nas mãos. Como profissional de marketing devo parabenizar a instituição maior do futebol pela marca conquistada como, seguramente, o maior evento mundial. Ela precisa e deve valorizar esse seu produto da forma mais lucrativa possível, ampliando o leque de alternativas de comercialização.
Apesar disso, como em todas as negociações, os parceiros precisam ser ouvidos. Precisa de negociação comercial e, até, política. O que a FIFA não pode é ser utilizada nas disputas políticas internas. Nem tornar o negócio COPA DO MUNDO como ferramenta de paixão clubística.
Na Copa de 2006, na Alemanha, a FIFA teve um lucro expressivamente menor do que terá na África do Sul e busca ter um recorde no Brasil. Qual a razão disso? É que a Alemanha não precisava da Copa, assim como São Paulo não precisa. E negociou com a FIFA de acordo com seus interesses.
Se a cidade não precisa da Copa deve ter um investimento compatível com o retorno esperado.
Construção de estádios e arenas multiuso não é legado para a população. Existem dezenas de casos no mundo inteiro, e no Brasil em particular, que comprovam isso.
Qual a razão da iniciativa privada não investir em construção de estádios enormes, elefantões? Lógico, a falta de retorno, o famoso ROI.
Vide o caso de Manaus, para citar apenas um. Após os dois ou três jogos da Copa quem utilizará a descabida estrutura construída com dinheiro público e sem qualquer adequação ao mercado local? Não seria mais rentável a aplicação desse dinheiro para a melhoria de vida da população? As modernas arenas para serem autossustentáveis não podem ter a capacidade do público que a FIFA exige para a Copa. O atual conceito de arena é de que ela é um palco para poucos privilegiados que podem arcar com o valor do ingresso exigido para o espetáculo. A massa é democraticamente atingida pela televisão. O mercado publicitário comprova isso de forma irrefutável. Quanto vale uma placa de merchandising num estádio com capacidade para 90.000 pessoas sem transmissão pela televisão. E quanto vale a mesma placa num estádio de 25.000 pessoas com transmissão de televisão. Isso é que sustenta os estádios.
Tive a oportunidade de visitar o Alianz Arena, na cidade de Munique, construído para receber a abertura da Copa de 2006 que tem locais de imprensa para 500 lugares. Durante todo o calendário esportivo alemão, o Alianz não recebe a média de 50 jornalistas por jogo!
A média de público do principal campeonato brasileiro é ao redor de 20.000 pessoas. Como serão sustentados os estádios construídos para dois ou três jogos da Copa após a sua efêmera duração.
O investimento público não pode e não deve acontecer na construção de estádios. No máximo, na infraestrutura de acesso que, essa sim, será um legado.
Imaginemos São Paulo com mais um estádio de grande capacidade! Quem vai arcar com a manutenção e retorno do investimento feito? O São Paulo não consegue manter o Morumbi de forma rentável, com shows e tudo.
O Corinthians, que atualmente não consegue lotar sequer o Pacaembu, conseguirá manter? O do Palmeiras já foi projetado para um número mais realista de lugares. Mesmo assim, levará 30 anos para o retorno do investimento. E o que será do Pacaembu sem os jogos dos times da capital?
O custo dos estádios para a Copa é estimado em cerca 6 bilhões de reais sem acrescer aí toda a infraestrutura externa de transporte e acesso.
Já se fala em outras cidades que, após sentirem a dificuldade do retorno dos investimentos, estão prestes a abrir mão do direito de ser sede.
Concordo plenamente com Caio Carvalho de que colocar dinheiro público em estádio novo é crime. Mesmo que for público/privado, deve ser canalizado para algo que privilegie a população. Construir estádios de luxo é entregar circo de luxo para uma população carente de educação, transporte e outros luxos.
Sem novos estádios, São Paulo já tem que arcar com o prejuízo do Pacaembu de cerca de 1,5 milhão de reais por ano.
Além da construção de estádios novos, se fala muito da receita financeira que a Copa 2014 trará para o Brasil. Que receita é essa? Receber novos turistas (estima-se 500.000 turistas na época da Copa, cerca de 10% dos turistas atuais) o que injetaria na economia brasileira cerca de 2 bilhões de reais. O restante é dinheiro interno. Não vem de fora do país. Aliás, na compra de equipamento para estádios, aeroportos, estradas, transporte urbano, ainda sairá do país uma enxurrada de dólares. A FIFA, através da sua empresa Match, é dona de todos os tickets, diárias de hospedagem, pacotes de viagem, licenciamentos e outros que representam mais milhões de dólares saindo do Brasil.
Os patrocínios esportivos são feitos no exterior. Os tais sócios e patrocinadores da FIFA pagam fortunas para ela no exterior. Não vem um tostão para o Brasil. As promoções e eventos internos praticamente não acontecerão se a FIFA mantiver todas as proibições atuais.
A promoção externa do Brasil é feita com dinheiro do Brasil, da população, meu, seu de todos nós. Mais dólares que saem para o exterior.
Não falamos ainda dos benefícios e isenções fiscais que já são estimados em bilhões de reais.
Essa estória de que não vai haver dinheiro público na construção de estádios não convence ninguém. Por isso, a pressa e pressão da FIFA, e dos brasileiros interessados, para que os projetos de lei sejam aprovados.

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