terça-feira, 5 de junho de 2012

Passando a sacolinha: e o dia em que as padarias começarem a não fornecer mais o saquinho do pão?


Por José Estevão Cocco

Para os profissionais de marketing mais experientes o episódio do fim do fornecimento de embalagens para acomodação e transporte dos produtos adquiridos em supermercados tem objetivo completamente diferente do que a preservação do meio ambiente.

Lógico que é uma maneira de redução de despesas ou aumento do lucro. Mesmo que fosse real e sincero, o argumento de defesa ambiental não se sustenta, tal o desdobramento da reutilização das tais sacolinhas. Se fosse, os supermercados não precisavam tomar a medida em cartel.

As sacolinhas não eram e não são distribuídas de graça. Longe disso. Estão e sempre estiveram embutidas nos preços dos produtos.

Lógico! Cristalino!

Está próximo o dia em que outros segmentos varejistas poderão rever seus custos e, consequentemente, tentar cobrar dos clientes o valor das embalagens.

Proporcionalmente, o custo do saquinho de papel – esse sim biodegradável - fornecido pelas padarias é muito maior do que as sacolinhas dos supermercados. Calcule o valor de um saco de papel sobre uma compra de cinco pãezinhos franceses e compare com os saquinhos fornecidos pelos supermercados.

E as pizzas entregues em domicílio, vamos ter que ter embalagem de troca? Como se fosse um botijão de gás? Vamos voltar ao tempo de trocar os vasilhames de bebidas?

O custo das embalagens está incluído na formação de preços. O custo do vasilhame está incluído no preço das bebidas. Assim como a embalagem da lasanha, do corte de carne, da verdura selecionada, da lata de ervilha, da pizza congelada ...

O próximo passo é passar a não fornecer mais o empréstimo dos carrinhos? Assim como nas feiras livres, cada um que leve seu carrinho. Aliás, por falar em feiras livres, todas as barracas fornecem sacolinhas de transporte.

A APAS e seus associados cometeram um grande equívoco ao tomarem tal medida em formato de cartel.

A maioria dos consumidores que vai aos supermercados, não vai de carro nem se dirige especialmente a eles, saindo do trabalho e “passando” no supermercado. Necessitará levar ao trabalho suas sacolas. E andar com elas. É a volta da marmita.

Entendo que o problema criado pela APAS e seus associados está longe de ser resolvido. Tal a celeuma levantada, os supermercados correm o risco de transformar o fornecimento de embalagens de transporte de forma promocional. Numa compra de, digamos, R$ 50,00, a compra de cinco sacolinhas biodegradáveis ao custo de R$ 0,59 cada significa 5,9% do valor da compra, percentual extremamente alto para a quase totalidade da população que vive à procura de preços mais baixos. Isso é tão verdade que toda a propaganda dos supermercados é feita baseada em “preços mais baixos e ofertas”.

Igualmente aos programas de milhagem das companhias aéreas, que, face à concorrência, hoje são praticamente obrigadas a ter seus programas de milhagem que deixa de ser uma vantagem competitiva para ser uma despesa, os supermercados, a curtíssimo prazo, vão fazer promoções com o fornecimento de embalagens de transporte.

Com certeza, a propaganda fará isso como um grande diferencial competitivo, só que agora com uma sacolinha muito mais cara do que as que foram tiradas de circulação, pelo simples motivo de que as novas deverão ser biodegradáveis.

Como praticamente tudo no Brasil, mais uma medida intempestiva, sem planejamento ou qualquer estudo de viabilidade mercadológica ou da reação do consumidor.

Acho que os supermercados precisarão enfiar a viola na sacolinha e dormir com a péssima imagem que ficaram com os seus clientes. Principalmente num segmento de consumidores que são fiéis apenas aos preços, que é a imagem que os supermercados insistem em construir.

A ida ao supermercado passou a ser mais um grande problema para o consumidor.
Quando passarão a cobrar pelo estacionamento?

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